O fio do olho é salgado
Minha cidade abaixo do nível do mar. Minha cidade onde o ar não chega, somente oxigênio necessário para alimentar uma mal nutrida combustão eterna. Minha cidade, Nerópolis, repleta de incendiários que jamais serão perdoados por erguer imponentes labaredas infernais, que são responsáveis por chamuscar as nuvens por debaixo. Minha cidade é de fogo e água. O asfalto quente derrete as solas dos pés. Para se refrescar há esgotos abertos, rios de caranguejos que beliscam carne mole e mares de tubarões raquíticos.
O fio do olho é seco
Cabo de aço correndo a córnea, o mar é verde e é um abismo sobre nossas cabeças. O mundo está tombado, só pode. O mar seco abriga fósseis, só há vida no molhado, só é verde onde molha. O fio de algodão da descostura de dentro do olho, se você puxar é pior, faz abertura de escorrer sangue. Sangue do olho é salgado, fio de algodão tingido. Faz muito tempo, mas ainda existe esse fogo nos olhos, fogo de incendiar canavial em olhos de encontro de mar com rio. Mesmo passado o tempo, ainda há sangue nos olhos. Não deixe essa fonte secar, nessa fonte que eu lavo minhas roupas, essa fonte tinge de vermelho meus panos e assim me camuflo, alvo já abatido. O vermelho é a cor de dentro, camuflagem de alvo só é possível assim.
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