Os dias estão passando fluídos sem deixar pegadas, deixam uma espécie de muco claro no tempo, dias de outono.
Irritação nos olhos, irritação nas narinas, mofo em casa imaginando onde será a próxima revolução do espírito. Não quero a revolução discreta de um filme ou música ou poesia, quero grande.
Por detrás do texto organizado, absurdo, uma pessoa sem graça, uma pessoa pra dentro, uma pessoa sem voz, a muda. Gosto de boiar, gosto de ouvir, gosto da janela do transporte. Gosto da possibilidade de viajar agora, um dia, pra onde. Existem tempos, coexistem. Eu vivo o que poderia ser o futuro (nunca será) e isso é estar à frente e atrás do meu tempo. Eu vivo também o passado (que não foi) para reprimir um pouco a ansiedade, para proteger esse silêncio.
Essa ansiedade pelo futuro não seria uma fé em algo absurdo? Seria melhor o trabalho pelo futuro, garante mais. A fé remove entranhas, desde antes.
A fé destrói milhões. O meu mundo é generosidade, a qualquer custo.
Não quero que me vendam. Não quero que me vendam nada. Eu sou a mosca, quanto é que eu valho, amor?